sábado, 20 de agosto de 2011

Fabrício Carpinejar - O Nosso Patrono! \o/


Fabrício Carpinejar nunca será um poeta “soneto”. Ou seja: um poeta tradicional, que faz o esperado. Talvez por isso ele consiga ser mais popular entre o público que entre a crítica (feito raro, tratando-se de poesia). Após transformar o consultório sentimental do seu blog num livro, ele compilou as experiências poéticas do seu Twitter num livro que tem como nome o endereço do seu microblog, www.twitter.com/fabriciocarpinejar. Nessa conversa, ele fala de provocações e define sua obra em 140 caracteres.

JORNAL DO COMMERCIO - Você é um poeta, e a poesia é uma construção cerebral, metódica, o oposto do Twitter, que é feito para apreender o instante do internauta. Como você encontra o equilíbrio desses dois mundos?
FABRÍCIO CARPINEJAR – Dizem que João Cabral é cerebral, acredito que ele é emocional. A investigação não elimina o relâmpago. O pensamento não elimina o desejo. O estudo não elimina a intuição. É um erro supor que aquilo que dedicamos mais tempo deixa de ser espontâneo. Assim como a poesia, o Twitter corta. Igualmente intenso, ferino. Procura também observações inusitadas do cotidiano, contraria expectativas, espalha iluminações ou sombras num espaço breve, empareda o leitor. Talvez não seja uma navalha, talvez não seja um bisturi, armas cultas e sábias de incisão. O Twitter coloca o poeta em briga de rua, o mais adequado é vê-lo como um canivete.

JC - Os tais 140 caracteres do Twitter, para você, é uma limitação ou a provocação de uma espécie de formato poético?
CARPINEJAR – Uma provocação saborosa. É selecionar, sugerir. Como poeta, aprendi a velejar usando o silêncio a meu favor. É o silêncio que dá velocidade ao verso. Quanto menor o aforismo, mais denso. É um laboratório da síntese, do bom humor. Só sentiremos a alegria da vírgula quando as frases são curtas. Será uma vírgula desejada, aguerrida.

JC - Você parece que gosta de usar a internet como um meio de provocação: o consultório sentimental do seu blog virou um livro e agora o mesmo ocorre com o Twitter. Você é um autor em busca do formato ideal?
CARPINEJAR – Eu gosto de tudo que é provocação. Um namoro começa com o casal brigando (pena que termina com o casal brigando). Não estou procurando um formato ideal, apenas não sou busto para me fixar em gesso. A mais surpreendente literatura vem quando não esperamos literatura. Brinco de esconde-esconde poético em diferentes suportes. Minha paixão é dar susto. Nasci feio, já tenho pós-graduação em assombros. Onde ninguém me espera, lá estarei com meu lirismo.

JC - Essas tentativas suas com a internet seriam um sinal de que você estaria...
CARPINEJAR – Farejando o tempo. Eu concordo com Elias Canetti: o poeta é o cão do seu tempo. Meter o focinho úmido nas mentiras, não deixar nada de fora, ser insaciável em sua curiosidade, revirar o lixo da linguagem para salvar significâncias. Desde pequeno, lustro moedas antigas. Sei que o melhor brilho parte de coisas abandonadas.

JC - Há algum plano para você voltar ao formato literário mais tradicional e quase épico de livros como Cinco Marias?
CARPINEJAR – Não sei se é épico, Cinco Marias é um livro irrepetível, centrado no jogo, com a troca de vozes entre os personagens e um final jornalístico que duplica a leitura. Onde cheguei mais perto do teatro. Preparo um livro de poemas, lentamente, que tem como ponto de partida a alegria, a leveza e a graça. Será o primeiro livro da língua portuguesa traduzido para a língua portuguesa. Eu vou me traduzir. Um poema na página e a tradução embaixo, numa nota de rodapé. Divertido, né? Para ninguém mais falar que a poesia é hermética.

JC - Última pergunta: como você descreveria o atual momento da sua literatura em 140 caracteres?
CARPINEJAR – Arruaça é uma alegria desesperada.

Publicado no Jornal do Commercio
Caderno C, Recife (PE), 17/12/09

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